The Rational Male: Não há ninguém especial.

Um problema com traduções é que nem sempre encontramos uma expressão adequada para indicar exatamente aquilo que o autor original quis dizer. A meu ver esse artigo sofre desse problema. Tentei ser o mais fiel possível à ideia proposta, mas recomendo a leitura do original em inglês caso tenham dúvidas. Essa tradução não é literal.


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ONEitis1 é paralisante. Você cessa de amadurecer, cessa de se mover, cessa de ser você.

Não há um alguém especial. Este é o mito da alma gêmea. Há boas escolhas e más escolhas, mas não há uma em especial. Qualquer pessoa te dizendo algo diferente disto está te vendendo alguma coisa. Há várias “pessoas especiais” lá fora para você, é só perguntar para uma pessoa divorciada/viúva que se casou depois que a sua “alma gêmea” morreu ou se foi.

Isto é o que faz as pessoas darem uma viajada nesse mito da alma gêmea, é esta fantasia que de todos nós pelo menos de alguma forma compartilhamos uma idealização de que – há um parceiro perfeito para cada um de nós, e assim que o planeta se alinhar e o destino seguir seu curso, nós saberemos que nós somos “destinados” um ao outro. E enquanto isto funciona bem como um enredo de uma gratificante comédia romântica, dificilmente é uma forma realista de planejar sua vida. Na verdade é costumeiramente paralisante.

O que eu acho ainda mais fascinante é como é comum a ideia (a maioria para homens) de que um plano básico de vida deve ser abarcado por essa fantasia na área de relacionamento intersexuais. Caras que de outra forma reconhecem o valor do entendimento de psicologia, biologia, sociologia, evolução, negócios, engenharia, etc. e como tudo isso se relaciona em nossas vidas diariamente, são alguns dos primeiros caras a se tornarem violentamente opositores à ideia de que talvez não exista ‘um alguém para todo mundo’ ou que há muito mais pessoas especiais lá fora que poderiam se ajustar ou exceder o critério que nós subconscientemente definimos para que elas sejam assim “especiais”. Eu acho que isso soa tão niilista ou até temerário por causa do medo que existe que essa crença seja falsa – é como dizer que Deus está morto para o religioso mais fervoroso. É terrível demais contemplar que não existe alguém especial ou que há várias pessoas especiais para passar o resto de nossas vidas. Essa mitologia ocidentalmente romantizada é baseada na premissa que há apenas um único companheiro e uma vida toda deve ser gasta na constante procura por essa ‘alma gêmea’. Este mito é tão forte e tão penetrante na nossa sociedade que ele se tornou aparentado à declarações religiosas e na verdade foi integrado em muitas doutrinas religiosas conforme a feminilização da cultura ocidental foi se espalhando.

Eu acho que há uma descaracterização da ONEitis. É necessário diferenciar entre um relacionamento saudável baseado em respeito mútuo e um relacionamento assimétrico baseado em ONEitis. Várias pessoas já vieram procurar pelos meus conselhos, desafiando minha visão da ONEitis, essencialmente me pedindo permissão para aceitar ONEitis como uma monogamia legítima. Eu considero ONEitis como uma dependência psicológica pouco saudável que deriva da socialização contínua do mito da alma gêmea na cultura pop. O que é realmente assustador é que a ONEitis acabou se tornando como se fosse um aspecto normativo saudável de um RLP2 ou casamento.

Eu cheguei a conclusão que ONEitis tem uma base sociológica enraizada, não apenas por causa de um fundamento da crença pessoal, mas pelo grau em que esta ideologia é disseminada e vendida massivamente na cultura popular através da mídia, música, literatura, cinema, etc. Serviços de encontro como o eHarmony descaradamente comercializam e exploram exatamente as inseguranças geradas naquelas pessoas que procuram desesperadamente por aquele ser especial “que eles estão destinados”. A ideia que homens possuem uma capacidade natural para proteção, sustento e monogamia vem de um ponto de vista tanto social como biopsicológico, mas a psicose da ONEitis não é um produto derivado disto. Pelo contrário, eu a separaria desta dinâmica do protetor/sustentador saudável uma vez que a ONEitis sabota essencialmente nossa propensão natural que de outra maneira a filtraria.

ONEitis é insegurança ao extremo enquanto uma pessoa está solteira e se torna potencialmente paralisada quando combinada com o objeto daquela ONEitis em um RLP. O mesmo desespero neurótico que leva uma pessoa a “sossegar” pela sua pessoa especial sendo de forma saudável ou não é a mesma insegurança que os paralisa de sair de um relacionamento danificado – Esta é aquela pessoa a quem eles foram destinados, como eles viverão sem elas? Ou, ela é a minha vida, tudo o que eu preciso é corrigir a mim mesmo ou corrigi-la para ter meu sonhado relacionamento. E esta idealização de um relacionamento é a raiz da ONEitis. Com tamanha limitação, nesta abordagem binária do tudo-ou-nada numa busca como a da agulha no palheiro desta pessoa especial, além de todo esforço deste investimento emocional no decorrer de uma vida, como nós amadureceremos em um entendimento saudável de que como um relacionamento realmente deveria acontecer? Esse relacionamento idealizado, como na síndrome de Poliana – o “felizes para sempre” – que a crença na pessoa destinada promove uma conclusão, é frustrado e contradito pelos custos da constante busca do escolhido em que depois eles irão “sossegar”. Depois que a melhor parte de um tempo de vida é investido nesta ideologia, quantas dificuldades mais irão aparecer até eles perceberem que ela não é a pessoa destinada a ele? Até onde uma pessoa irá para proteger seu ego de todo esse investimento emocional feito por um longo tempo de vida nessa crença?

Em determinado momento em um relacionamento baseado em ONEitis um participante estabelecerá o domínio baseado na fraqueza que a pessoa com ONEitis possui. Não há nada mais grandioso para uma mulher do que saber que ela é sem sombra de dúvidas a única fonte das necessidades de sexo e intimidade de um homem. ONEitis consolida esse entendimento em ambos os lados. Para um homem que acredita que este relacionamento emocional e psicologicamente danoso em que ele se dedicou tanto com a única pessoa que ele será totalmente compatível, não há nada mais paralisante. O mesmo é claro também acontece com as mulheres, e este é o motivo pelo qual nós balançamos nossas cabeças quando vemos uma bela HB 93 que corre atrás do seu abusivo e indiferente namorado babaca; é porque ela acredita que ele é a sua cara metade e a única fonte de segurança para ela. Hipergamia pode ser a fonte imperativa do porquê estar atrás dele, mas é o mito da alma gêmea, o medo do “destinado que foi embora” que faz ela realizar todo o investimento emocional.

A definição de poder não é sucesso financeiro, status ou influência sobre outros, mas o grau em que nós temos controle sobre nossas próprias vidas. Aceitar a mitologia da alma gêmea é reconhecer que nós não temos poder nesta área de nossas vidas. Eu acho que melhor seria adotar o entendimento de que não existe essa ideia de uma pessoa destinada a você. Há algumas pessoas boas e outras ruins para você se relacionar, mas não há uma em especial.

Artigo original: https://therationalmale.com/2011/08/30/there-is-no-one/


1 N. do T.: ONEitis ou paixão obsessiva é como é chamado aquele sentimento que uma pessoa tem por outra que chega a paralisar. Costumeiramente acomete homens que não tendo muita vivência com o jogo da sedução se deixam levar pensando que aquela garota é a “mulher da sua vida”. Especialistas em dinâmica social definem ONEitis como uma doença que tende a arrastar a pessoa em uma série de erros quase sempre impossibilitando uma chance de conquista.

2 N. do T.: RLP é a sigla para Relacionamento de Longo Prazo, do inglês LTR (Long Term Relationship).

3 N. do T.: HB, do inglês “Hot Babe”, uma menina gostosa, no caso uma HB 9 é praticamente uma top, quase uma mulher de aparência perfeita, a tão desejada HB 10.